26 de julho de 2012

Cada um no seu quadrado



Parece um crime a gente querer o diferente. Parece errado a gente querer fazer o que os parentes e amigos mais próximos não fazem. Acho um absurdo a gente ter que dar satisfação de sonhos e projetos que na realidade são só nossos. Existem coisas que são só suas. Existem escolhas que só pertencem a você. E fim de papo. E fim de jogo. E fim de tudo.
Ninguém tem o direito de te julgar, de colocar o dedo na sua cara e dizer que o jeito que você vive não é legal. Sempre achei que a vida da gente é uma tela branca. Nela, a gente coloca as cores e formas que quiser. E quem não gostar, azar. E quem não gostar, não gostou. 
 Procuro manter perto as pessoas que eu gosto e que realmente querem o melhor para mim. E o melhor para mim nem sempre é o que o outro considera o melhor. O jeito que eu levo a minha vida, a forma como eu encaro os meus dias dizem respeito apenas a mim. E mais ninguém. Quem quiser, que embarque nessa comigo. Quem não quiser, que me respeite. E viva a própria vida da forma que bem entender.

Clarissa Corrêa

Bem de vida




Desde pequeno a gente é acostumado a ouvir por aí, desde os pais até a mulher na fila do mercado, que a vida é uma merda. Que homem não presta, que a gente tem que estudar muito, arrumar um emprego que dê dinheiro e ficar bem de vida. Quando se é criança, você diz amém e vai brincar na pracinha. Daí alguém fala "Aproveita enquanto você pode!" e você nunca entende os adultos. Eu cresci e, vou confessar, ainda não entendo. A vida só é uma merda, quando você acolhe esse tipo de pensamento que é apresentado tão cedo pra todos nós e passa a viver só pra isso, ter um emprego que dê muito dinheiro e que te deixe "bem de vida". Mas isso nunca vai ser estar bem de vida, então a fórmula nunca funciona e é mais uma pessoa a todo minuto pra reclamar na fila de algum lugar. Viver de peito aberto, apesar dos pesares, dói, mas nunca vai ser só sobreviver. Eu optei por trabalhar com o que eu amo, porque sou dos meus sonhos, não escrava de um contra-cheque. Minha opção é o amor, acho que é bem por aí. Meu objetivo de vida é uma família feliz, quase um comercial de margarina. Eu faço dinheiro, dinheiro não me faz. Pra ser adulto, não é preciso abrir mão da pracinha, nem de nada que nos faça bem. É só reorganizar o tempo e as prioridades. Enquanto o objetivo de vida das pessoas for dinheiro, a vida vai continuar sendo uma merda.


Marcella Fernanda

20 de julho de 2012

Feliz dia pra quem tem um amigo pra chamar de seu!


Feliz Dia do Amigo pra quem fica feliz com a minha felicidade. 
Feliz Dia do Amigo pra quem chora junto comigo. 
Feliz Dia do Amigo pra quem torce por mim mesmo de longe. 
Feliz Dia do Amigo pra quem oferece uma palavra de consolo nas horas difíceis. 
Feliz Dia do Amigo pra quem sabe pedir desculpa. 
Feliz Dia do Amigo pra quem sabe o que é ser amigo. 
Feliz todo dia pra quem nos conhece do avesso e nos respeita mesmo assim. 


Clarissa Corrêa

17 de julho de 2012

Das Vantagens de Ser Bobo





O bobo, por não se ocupar com ambições, tem tempo para ver, ouvir e tocar o mundo. O bobo é capaz de ficar sentado quase sem se mexer por duas horas. Se perguntado por que não faz alguma coisa, responde: "Estou fazendo. Estou pensando." 
Ser bobo às vezes oferece um mundo de saída porque os espertos só se lembram de sair por meio da esperteza, e o bobo tem originalidade, espontaneamente lhe vem a idéia. 
O bobo tem oportunidade de ver coisas que os espertos não vêem. Os espertos estão sempre tão atentos às espertezas alheias que se descontraem diante dos bobos, e estes os vêem como simples pessoas humanas. O bobo ganha utilidade e sabedoria para viver. O bobo nunca parece ter tido vez. No entanto, muitas vezes, o bobo é um Dostoievski. 
Há desvantagem, obviamente. Uma boba, por exemplo, confiou na palavra de um desconhecido para a compra de um ar refrigerado de segunda mão: ele disse que o aparelho era novo, praticamente sem uso porque se mudara para a Gávea onde é fresco. Vai a boba e compra o aparelho sem vê-lo sequer. Resultado: não funciona. Chamado um técnico, a opinião deste era de que o aparelho estava tão estragado que o conserto seria caríssimo: mais valia comprar outro. Mas, em contrapartida, a vantagem de ser bobo é ter boa-fé, não desconfiar, e portanto estar tranqüilo. Enquanto o esperto não dorme à noite com medo de ser ludibriado. O esperto vence com úlcera no estômago. O bobo não percebe que venceu. 
Aviso: não confundir bobos com burros. Desvantagem: pode receber uma punhalada de quem menos espera. É uma das tristezas que o bobo não prevê. César terminou dizendo a célebre frase: "Até tu, Brutus?" 
Bobo não reclama. Em compensação, como exclama! 
Os bobos, com todas as suas palhaçadas, devem estar todos no céu. Se Cristo tivesse sido esperto não teria morrido na cruz. 
O bobo é sempre tão simpático que há espertos que se fazem passar por bobos. Ser bobo é uma criatividade e, como toda criação, é difícil. Por isso é que os espertos não conseguem passar por bobos. Os espertos ganham dos outros. Em compensação os bobos ganham a vida. Bem-aventurados os bobos porque sabem sem que ninguém desconfie. Aliás não se importam que saibam que eles sabem. (...)
É quase impossível evitar excesso de amor que o bobo provoca. É que só o bobo é capaz de excesso de amor. E só o amor faz o bobo.


(Clarice Lispector)

Note as diferenças!




"O rouge virou blush. O pó-de-arroz virou pó-compacto. O brilho virou gloss. O rímel virou máscara incolor. A Lycra virou stretch. Anabela virou plataforma. O corpete virou porta-seios. Que virou sutiã. Que virou silicone. A peruca virou aplique… interlace… megahair… alongamento. A escova virou chapinha. ‘Problemas de moça’ viraram TPM. Confete virou MMs. A crise de nervos virou estresse. A purpurina virou gliter. A tanga virou fio dental. E o fio dental virou anti-séptico bucal. Ninguém mais vê: O à-la-carte porque virou self-service. A tristeza agora é depressão. O espaguete virou miojo pronto. A paquera virou pegação. A gafieira virou dança de salão. O que era praça virou shopping. A areia virou ringue. O LP virou CD. A fita de vídeo é DVD. O CD já é MP3. É um filho onde eram seis. O álbum de fotos agora é mostrado por e-mail. O namoro agora é virtual. A cantada virou torpedo. E do ‘não’ não se tem medo. O break virou street. O samba, pagode. O carnaval de rua virou Sapucaí. O folclore brasileiro, halloween. O piano agora é teclado, também. O forró de sanfona ficou eletrônico. Fortificante não é mais Biotônico. Polícia e ladrão virou Counter Strike. Fauna e flora a desaparecer. Lobato virou Paulo Coelho. Caetano virou um pentelho. Elis ressuscitou em Maria Rita. Raul e Renato. Cássia e Cazuza. Lennon e Elvis. A AIDS virou gripe. A bala antes encontrada agora é perdida. A violência está maldita. A maconha é calmante. O professor é agora o facilitador. As lições já não importam mais. A guerra superou a paz. E a sociedade ficou incapaz. De tudo. Inclusive de notar essas diferenças."


— Luís Fernando Verissímo. 

11 de julho de 2012

Considero-me diferente...




O mundo ainda não aprendeu a lidar com seres humanos diferentes da média.
Diferente é quem foi dotado de alguns mais e de alguns menos em hora, momento e lugar errado. Para os outros. Que riem de inveja de não serem assim. E de medo de não aguentarem, caso um dia venham a ser. O diferente é um ser sempre mais próximo da perfeição. Nunca é um chato. Mas é sempre confundido com ele por pessoas menos sensíveis e avisadas. Supondo encontrar um chato onde está diferente, talentos são rechaçados; vitórias são adiadas; esperanças são mortas. Um diferente medroso, este sim acaba transformando-se num chato. Chato é um diferente que não vingou.
O diferente começa a sofrer cedo, desde o colégio, onde todos os demais de mãos dadas, e até mesmo alguns professores por omissão (principalmente os mais grossos), se unem para transformar o que é peculiaridade e potencial, em aleijão e caricatura. O que é percepção aguçada em "- puxa, fulano, como você é complicado". O que é o embrião de um estilo próprio em "- Você não está vendo como é que todo mundo faz?"
O diferente carrega desde cedo apelidos e carimbos nos quais acaba se transformando. Só os diferentes mais fortes do que o mundo à sua volta se transformaram (e se transformam) nos seus grandes modificadores.
Diferente é o que: chora onde outros xingam; quer, onde outros cansam; espera, de onde já não vem; sonha, entre realistas; concretiza, entre sonhadores; fala de leite em reunião de bêbados; cria, onde o hábito rotiniza; perde horas em coisas que só ele sabe importantes; diz sempre na hora de calar; cala sempre nas horas erradas; fala de amor no meio da guerra; deixa o adversário fazer o gol porque gosta mais de jogar que de ganhar; aprendeu a superar o riso, o deboche, o escárnio e a consciência dolorosa de que a média é má porque é igual; vê mais longe do que o consenso; sente antes dos demais começarem a perceber; se emociona enquanto todos em torno agridem e gargalham.
A alma dos diferentes é feita de uma luz além. A estrela dos diferentes tem moradas deslumbrantes que eles guardam para os poucos capazes de os sentir e entender. Nessas moradas estão os maiores tesouros da ternura humana. De que só os diferentes são capazes. Jamais mexam com o sentimento de um diferente. Ele é sensível demais para ser conquistado sem que haja consequência com o ato de o conquistar.


Artur da Távola

2 de julho de 2012

O que torna uma pessoa grande...



"Como se mede uma pessoa? Os tamanhos variam conforme o grau de envolvimento. Ela é enorme pra você quando fala do que leu e viveu, quando trata você com carinho e respeito, quando olha nos olhos e sorri. É pequena pra você quando só pensa em si mesmo, quando se comporta de uma maneira pouco gentil, quando fracassa justamente no momento em que teria que demonstrar o que há de mais importante entre duas pessoas: a amizade. Uma pessoa é gigante pra você quando se interessa pela sua vida, quando busca alternativas para o seu crescimento, quando sonha junto. É pequena quando desvia do assunto. Uma pessoa é grande quando perdoa, quando compreende, quando se coloca no lugar do outro, quando age não de acordo com o que esperam dela, mas de acordo com o que espera de si mesma. Uma pessoa é pequena quando se deixa reger por comportamentos clichês. Uma mesma pessoa pode aparentar grandeza ou miudeza dentro de um relacionamento, pode crescer ou decrescer num espaço de poucas semanas: será ela que mudou ou será que o amor é traiçoeiro nas suas medições? Uma decepção pode diminuir o tamanho de um amor que parecia ser grande. Uma ausência pode aumentar o tamanho de um amor que parecia ser ínfimo. É difícil conviver com esta elasticidade: as pessoas se agigantam e se encolhem aos nossos olhos. Nosso julgamento é feito não através de centímetros e metros, mas de ações e reações, de expectativas e frustrações. Uma pessoa é única ao estender a mão, e ao recolhê-la inesperadamente, se torna mais uma. O egoísmo unifica os insignificantes. O que torna uma pessoa grande é a sua sensibilidade sem tamanho."

— Martha Medeiros

Eu vou cuidar...

E se você puder me olhar
Se você quiser me achar
E se você trouxer o seu lar
Eu vou cuidar
Eu cuidarei dele
Eu vou cuidar do seu jardim
Eu cuidarei muito bem dele
Eu vou cuidar
Eu cuidarei do seu jantar
Do céu e do mar
E de você e de mim. 

(Nando Reis)

Uma prova de sua capacidade


"Quando você conseguir superar graves problemas de relacionamentos, não se detenha na lembrança dos momentos difíceis, mas na alegria de haver atravessado mais essa prova em sua vida. Quando sair de um longo tratamento de saúde, não pense no sofrimento que foi necessário enfrentar, mas na bênção de Deus que permitiu a cura.
Leve na sua memória, para o resto da vida, as coisas boas que surgiram nas dificuldades. Elas serão uma prova de sua capacidade, e lhe darão confiança diante de qualquer obstáculo."


(Chico Xavier)