12 de outubro de 2011

Quem dera...



 








Quem dera eu aprendesse a viver cada dia como se fosse o último.
O último para dizer “obrigada”. O último para dizer “me desculpa”.
O último para dizer “eu te amo”.
O último para abraçar cada pessoa amada com aquele abraço bom que faz um coração cantar para o outro.
O último para apreciar a vida com o entusiasmo que não guarda nenhuma delícia nem ternura pra depois.
O último para fazer as pazes. Para desfazer enganos. Para saborear com calma,
como se me servissem um banquete, a preciosidade genuína que cada único respiro humano representa.

Quem dera eu aprendesse a viver cada dia como se fosse o último.
O último pra esquecer tolices. O último para ignorar o que, no fim das contas,
não tem a menor importância. O último para rir até o coração dançar.
O último para chorar toda dor que não transbordou e virou nódoa no tecido da vida.
O último para aprontar todas as artes que a emoção quiser.
O último para ser útil em toda circunstância que me for possível.
O último para não deixar o tempo escoar inutilmente entre os dedos das horas.

Quem dera eu aprendesse a viver cada dia como se fosse o último.
O último para me maravilhar diante de cada expressão da natureza com o olhar
demorado de quem olha pela primeira vez.
O último para ouvir aquela música que acende sóis por toda a extensão da minha alma.
O último para ler, de novo, o poema que diz tanto de mim que eu me sinto caber nos olhos
do poeta que o escreveu. O último para desembaraçar os fios emaranhados dos medos que me acompanham.

Quem dera eu aprendesse a viver cada dia como se fosse o último.
Eu não perderia uma chance para me presentear com os agrados que me nutrem.
Eu criaria mais oportunidades para dizer o meu amor. Para expressar a minha admiração.
Para destacar para cada pessoa a beleza singular que ela tem. Para compartilhar.
Eu não adiaria delicadezas. Não pouparia compreensão.
Não desperdiçaria energia com perigos imaginários e com uma série de bobagens que só me afastam da vida.
Quem dera eu aprendesse a viver cada dia como se fosse o último, porque pode ser.

- Ana Jácomo

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